Século XX: Modernismo e Pós-modernismo


O século XX foi palco de grandes rupturas e experimentações. O Modernismo trouxe novas formas, novas linguagens e temas existenciais: James Joyce, Franz Kafka, Virginia Woolf, Fernando Pessoa e Jose Saramago exploraram a consciência, a linguagem e o absurdo da condição humana. A literatura passou a dialogar com as guerras, os regimes totalitários e as mudanças sociais.

Com o Pós-modernismo, a literatura fragmenta-se, mistura gêneros e questiona a verdade e a própria noção de autoria. Escritores como Italo Calvino, Gabriel García Márquez, Paulo Coelho e Haruki Murakami exemplificam essa fase, cada qual a seu modo.

José Saramago: A Voz da Insurreição Literária


José Saramago foi um dos maiores escritores da literatura portuguesa contemporânea, conhecido pela sua escrita única, que desafiava convenções de pontuação e estrutura narrativa. Nascido em 16 de novembro de 1922, na pequena aldeia de Azinhaga, em Portugal, Saramago cresceu em um ambiente simples, o que lhe conferiu uma visão crítica e profunda sobre as questões sociais e humanas.

Antes de se tornar escritor em tempo integral, Saramago trabalhou em várias funções, incluindo como tradutor, editor e jornalista. Sua trajetória literária foi marcada por uma carreira inicial de relativa obscuridade, até que, nos anos 1980, seus romances começaram a ganhar reconhecimento internacional. A partir de então, Saramago tornou-se um nome de destaque não apenas em Portugal, mas no mundo literário.

A sua obra caracteriza-se por uma mistura de realismo fantástico, filosofia e crítica social. Em seus livros, o autor frequentemente abordava temas como a fragilidade humana, a opressão, a religião, a política e o absurdo da existência. Seu estilo de escrita é singular, com frases longas, pouca pontuação e diálogos que muitas vezes se confundem com a narrativa, criando uma fluidez que exige uma leitura atenta e contemplativa.

Entre suas obras mais importantes estão:

"Ensaio sobre a cegueira" (1995): Talvez sua obra mais famosa, este romance descreve uma epidemia de cegueira súbita que atinge uma cidade inteira, levando os personagens a uma luta desesperada pela sobrevivência em um mundo em colapso. A obra é uma reflexão sobre a natureza humana, a moralidade e a solidariedade em tempos de crise.
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1991): Uma reinterpretação radical da vida de Jesus Cristo, que questiona e critica aspectos da religião e da moralidade cristã, o que gerou controvérsias na época de sua publicação.
"Memorial do Convento" (1982): Uma narrativa histórica e fantástica que mistura a realidade com a ficção, centrada na construção do Convento de Mafra, em Portugal, e nas questões sociais e políticas do século XVIII.
"A Jangada de Pedra" (1986): Uma história em que a Península Ibérica se solta do continente europeu e começa a flutuar pelo oceano, um simbolismo das tensões políticas e históricas entre Portugal e Espanha.
Além do Nobel de Literatura, que recebeu em 1998, Saramago recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos ao longo de sua carreira. Sua obra, profundamente crítica e humanista, deixou uma marca indelével na literatura mundial, sendo uma fonte de inspiração para muitos escritores contemporâneos.

José Saramago morreu em 18 de junho de 2010, deixando um legado literário que continua a ser estudado e admirado até hoje. Sua visão do mundo, muitas vezes pessimista, mas também cheia de esperança na capacidade humana de resistir e reconstruir, faz de sua obra um ponto de reflexão contínua sobre a condição humana.

George Orwell: a Distopia do Totalitarismo

George Orwell, nome literário de Eric Arthur Blair, nasceu em 25 de junho de 1903, em Motihari, na Índia Britânica, quando o país ainda era colônia do Império Britânico. Criado na Inglaterra, Orwell teve uma infância modesta e estudou em escolas tradicionais, como a prestigiada Eton College. Desde cedo, demonstrava espírito crítico, questionador e sensível às injustiças sociais.

Após terminar os estudos, ingressou na Polícia Imperial Britânica na Birmânia (atual Mianmar), onde viveu uma profunda transformação. Viu de perto o peso do colonialismo britânico sobre os povos asiáticos e abandonou o cargo, convencido de que não poderia compactuar com a opressão. Esse período inspirou seu romance "Dias na Birmânia" (1934), onde ele já revela seu inconformismo:

"Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado."

Orwell mergulhou então em uma vida de dificuldades. Viajou por França e Inglaterra, vivendo como morador de rua e trabalhador precário. Dessa experiência nasceu "Na Pior em Paris e Londres" (1933), uma obra que denuncia a miséria nas grandes cidades europeias.

Mas foi durante a Guerra Civil Espanhola que sua visão política se consolidou. Lutando ao lado dos republicanos contra o fascismo, Orwell viu de perto as disputas internas entre comunistas, socialistas e anarquistas, e percebeu como a manipulação ideológica podia ser tão perigosa quanto a repressão militar. Seu livro "Homenagem à Catalunha" (1938) traz esse testemunho com honestidade rara:

"Vi coisas maravilhosas e vi coisas terríveis, mas tudo me pareceu muito real."

A Revolução dos Bichos (1945)
Com o avanço do stalinismo e o fim da Segunda Guerra Mundial, Orwell escreve sua primeira grande fábula política: "A Revolução dos Bichos", uma crítica direta ao regime soviético, disfarçada como história infantil. Na obra, os animais de uma fazenda se rebelam contra os humanos e criam um novo sistema que promete igualdade. Com o tempo, porém, os porcos assumem o poder e se tornam tão tirânicos quanto os antigos donos.

"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros."

A frase, icônica, sintetiza como o poder pode corromper mesmo os ideais mais nobres. A obra teve grande repercussão, especialmente em países democráticos, por sua clareza e impacto político.

1984 (1949)
Sua obra mais famosa, "1984", foi publicada um ano antes de sua morte e se tornou uma das distopias mais influentes da história da literatura. O livro narra a vida de Winston Smith, um homem que vive em um regime totalitário onde tudo é vigiado pelo Estado, até mesmo os pensamentos.

O Grande Irmão ("Big Brother"), figura onipresente, representa o controle absoluto do governo. O romance introduz termos como duplipensar (aceitar duas verdades contraditórias) e novilíngua, uma linguagem criada para limitar o pensamento.

"Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força." (1984)
"Se quiser uma imagem do futuro, imagine uma bota esmagando um rosto humano — para sempre."

Essas frases chocantes revelam o horror da perda da liberdade individual e a força da manipulação ideológica. Orwell escreveu "1984" doente, já sofrendo de tuberculose, mas determinado a deixar um alerta poderoso contra os abusos do poder.

George Orwell morreu em 21 de janeiro de 1950, aos 46 anos, mas sua obra continua viva. Seus livros são leitura obrigatória em todo o mundo, e sua influência é sentida na literatura, na política, no jornalismo e nos debates sobre liberdade e verdade.

Seja ao denunciar a pobreza, o colonialismo ou os regimes totalitários, Orwell sempre escreveu com clareza moral, lucidez política e coragem intelectual. Ele acreditava que a escrita deveria servir à verdade, e sua obra permanece um farol crítico em tempos de crise.

"Em tempos de engano universal, dizer a verdade se torna um ato revolucionário."