Itamar Vieira Junior: a voz literária do Brasil profundo
Itamar Vieira Junior é um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. Nascido em Salvador, Bahia, em 1979, ele une em sua obra o rigor intelectual de um geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos à sensibilidade de um contador de histórias profundamente enraizado nas experiências do povo brasileiro. Sua escrita carrega marcas de sua trajetória acadêmica, profissional e pessoal, com temas que abordam ancestralidade, luta por terra, desigualdade social e identidade.
Seu romance de estreia, Torto Arado, publicado em 2019, conquistou público e crítica, tornando-se um fenômeno literário. O livro venceu importantes prêmios como o Prêmio LeYa (2018), o Prêmio Jabuti e o Prêmio Oceanos (ambos em 2020), e já foi traduzido para dezenas de idiomas. A história se passa na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, e acompanha a vida de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, filhas de trabalhadores rurais em uma comunidade marcada por vínculos com a terra e tradições afro-brasileiras, especialmente o Jarê — uma forma de religiosidade popular.
A força de sua narrativa está na capacidade de dar protagonismo aos invisibilizados. Sobre isso, o próprio autor declarou:
“Não diria que dou voz aos silenciados. Talvez eu estivesse mesmo entre eles, afinal, essa é minha origem também.”
Essa declaração sintetiza o compromisso ético e afetivo de Itamar com as histórias que escreve. Ele não observa seus personagens de longe; ele os compreende por dentro.
Em 2023, Itamar lançou Salvar o Fogo, segundo romance de sua carreira, que aprofunda temas como religiosidade, memória familiar e conflitos sociais. A obra também é ambientada na Bahia, reforçando seu vínculo com o território como espaço simbólico e político.
Além dos romances adultos, o autor também iniciou uma trajetória na literatura infantil, com o livro Chupim (2024), no qual aborda o trabalho infantil no campo, reafirmando seu compromisso com causas sociais desde a infância.
Itamar Vieira Junior é mais do que uma revelação: é uma presença transformadora na literatura brasileira. Com uma escrita poética, crítica e profundamente humana, ele revela o Brasil invisível e contribui para a valorização das vozes historicamente marginalizadas. Seu trabalho reafirma o poder da literatura como instrumento de resistência, memória e reconstrução de identidades.