Sobre o Editor Chefe

Fernando Abdo é natural belorizontino, do Curral Del Rei cinzelado pela Serra que ora finda. Lá, cresceu menino travesso, nos tempos do rolimã, por sobre as árvores da Carandaí e da alvorada Mangabeiras. Teve o privilégio de família lida, enciclopedista; tornou- se, portanto, produto do meio. 

Há quase vinte anos, estancia-se na Inglaterra, vociferado pela cultura das artes e literatura inaudita. É certificado em Literatura Inglesa pela Oxford University e Licenciado em Criação Literária pela University of London. Grande admirador dos verbos em sinônimos de Machado de Assis; da decadência promulgada de Fernando Pessoa e das odisseias poéticas de Lord Tennyson. Publicou também as obras Memórias Editadas, Brasil Afora, Por que Será? e, em parceria com Nadja Abdo, Contos e Outros Tantos. Sua última obra, ficção-aventura, Ver pra Crer, em parceria com Nelson Campos, teve sua primeira edição esgotada. Todos ilustrados por Karla Boncompagni.

Fernando acredita que a Literatura é ponte lançada sobre o abismo do tempo, voz antiga que ainda sussurra na dobra de uma página. Ela nasce do silêncio — mas um silêncio grávido de tempestades, de amores e naufrágios, de estradas que ninguém percorreu senão com os olhos de um leitor.

Literatura é quando a alma tropeça

“Literatura é bicho danado,
se esconde nas esquinas da fala,
nas beiradas da vida cotidiana,
e quando a gente vê — zás! —
tá sentada na sala
comendo o pão que o poeta amassou.

Não é só livro encapado e bonito, não senhor.
É também bilhete esquecido no bolso,
carta de amor com erro de português,
cantiga de roda,
rezas e xingamentos.

Literatura é gente.
É o povo inteiro comendo palavras
e arrotando histórias.
É a fala da comadre no portão
que vira verso sem saber.

Ela vem de bonde,
de tamanco,
debaixo do braço suado do trabalhador,
vem de onde a cidade canta feia e viva,
vem dos fundos do Brasil que ainda não aprendeu a se calar.

Ah, literatura!
Não é só ler: é ouvir.
Ouvir o batuque das palavras,
o soluço das sílabas.
É quando a alma tropeça
e o coração escreve por conta própria.”

Fernando Abdo